segunda-feira, 25 de maio de 2015

Formas


          Quando observarmos um conjunto de edifícios que se constitui a arquitetura de um determinado local, tentando entender o fenômeno da forma arquitetônica, abrangendo a produção atual, vamos notar que estes edifícios, além das diferenças acidentais que possuem entre si, apresentam diferenças muito mais profundas, relacionadas com as estruturas elementares de conceitos sob os quais estes edifícios foram concebidos. Assim, essas estruturas são definidas em categorias da forma arquitetônica.

           Abaixo, um breve resumo das principais categorias, baseada nos modos fundamentais ou princípios de relação com fontes externas ou internas de onde o arquiteto extrai a ideia inicial para a configuração do edifício ou conjunto.

·         Forma tipológica:

          A forma tipológica vem dos tipos arquitetônicos. É a mais freqüente, tanto na arquitetura histórica quanto na contemporânea. Se observarmos o quanto os espaços das igrejas tradicionais se parecem: uma nave central, mais alta, e duas laterais, mais baixas; o altar situa-se no cruzamento destas naves com uma outra, o transepto. Elas fazem parte de um tipo arquitetônico, chamado de basílica cristã, desenvolvido na Idade Média, na Europa, a partir da basílica pagã.



As igrejas do Período do Ouro no Brasil formam um dos tipos mais recorrentes da arquitetura barroca no Brasil. 1- Bom Jesus dos Matosinhos; 2- Santa Efigênia ; 3- N. S da Conceição de Antonio. Plantas SANTOS, P. A arquitetura religiosa em Ouro Preto. Kosmos 1951.

          Outro exemplo de tipo arquitetônico, e que temos bastante conhecimento é o edifício residencial multifamiliar. Seus elementos componentes, tanto coletivos (portaria, elevadores, circulações) quanto privativos (salas, quartos, etc.) guardam sempre a mesma relação posicional, o que podemos caracterizar como um tipo arquitetônico.





·         Forma geométrica:

          A mais usada na arquitetura moderna. A escolha dos arquitetos geralmente recai sobre formas simples: prismas, cilindros, paralelepípedos, usados isoladamente ou compondo conjuntos. Eventualmente, recorre-se a formas geométricas menos usuais: a Catedral de Brasília tem a estrutura formal de um hiperbolóide de revolução.






·         Forma livre:

    Muito usada também na arquitetura moderna. Não se parecer com formas usadas anteriormente ou com figuras geométricas familiares, atendeu à perfeição aos requisitos modernistas de inovação, originalidade e funcionalidade. Quanto à inovação, a formas não conhecidas era uma exigência para a criação de um novo código desvinculado do passado; no quesito originalidade, o atendimento ao mito romântico da forma original era visto como oposição ao passado recente, de obediência clássica, e portanto normativa; quanto à funcionalidade, se a forma deveria “seguir a função”, não poderia ser um “a priori”, como é o caso da forma tipológica, mas uma consequência final do estudo do problema.

Casa das Canoas. Rio de Janeiro, 1851-3. Arq. O. Niemeyer.

·         Forma topológica:

          Inspirada pelo sítio (“topos”, em grego, quer dizer “sítio”, “local”), isto é, extrai uma ou mais das características do local onde o edifício será implantado. Um exemplo conhecido de forma topológica é o Conjunto Habitacional do Pedregulho, no Rio de Janeiro, onde a linha tortuosa, geratriz do volume do edifício é uma curva do próprio terreno. Outro exemplo está nas cidades coloniais do sul de Minas, como Ouro Preto, cujo movimento dos telhados, é consequência do relevo do local.


 ·         Forma analógica:
            Temos como o significado de analogia, a relação de semelhança entre dois objetos. A forma arquitetônica analógica é inspirada por um objeto externo ao universo da arquitetura. Vejamos isso com o  exemplo das ordens gregas: os capitéis dórico e jônico são de inspiração geométrica; já o capital coríntio é uma forma analógica (representa um cesto ornado de folhas de acanto). Outro exemplo nos é dado pelo Terminal de Passageiros da TWA, inspirado na forma de uma águia, uma metáfora alusiva não somente ao vôo de longo alcance, como também ao país, uma vez que a águia é símbolo dos Estados Unidos.

Terminal  da TWA no aeroporto J. F. Kennedy, em Nova Iorque. 

 ·         Forma tectônica:

          Essa forma é determinada por necessidades técnicas. Por exemplo, os telhados de águas inclinadas, uma solução de cobertura que atravessa toda a História da Arquitetura. A inclinação deve-se à necessidade de facilitar o escoamento das águas ou de neve. Um outro exemplo de forma tectônica nos é dado pelo arco, que tantos serviços prestou à arquitetura tradicional.

Fábrica de chapéus Steinberg, Luckenwalde (1921-1923).   

Casa da Cascata. Bear Run, Pensilvânia. 1936. 




  •                     Forma orgânica:


          A forma orgânica é quando a configuração final do edifício é resultado do posicionamento das unidades espaciais, que são justapostas à maneira de células de um tecido orgânico. Os mais célebres exemplos desta categoria são as “praire houses” de Frank Lloyd Wright, residências suburbanas de alta classe média no Leste dos Estados Unidos, início do século.






·         Forma sistêmica

É a forma que resulta da resolução antecipada dos problemas propostos por um ou mais sistemas da arquitetura. Historicamente, o melhor exemplo da forma sistêmica vem das catedrais góticas. Os sistemas espacial, estrutural e de iluminação são resolvidos em cada tramo do edifício e se reproduz linearmente por justaposição. Atualmente os sistemas envolvidos são de maior complexidade, incluindo a estrutura, as instalações técnicas (ar condicionado, eletricidade, água e esgoto), instalações físicas (mobiliário, equipamentos), demandas de conforto ambiental. A forma sistêmica é o resultado de uma abordagem tecno-científica da arquitetura e responde pelas melhores soluções da construção industrializada.

Companhia Centraal Beheer. Apeldoorn, Holanda.

       ·         Anamorfismo

Esse nome se dá ao processo de deformação de uma figura conhecida em busca de uma nova forma, diferente e individualizada, mas que resulta da distorção da primeira. No processo anamórfico o artista atua diretamente sobre a forma, às vezes sem nenhum método pré-determinado. O uso mais conhecido do processo anamórfico na arquitetura, e possivelmente o mais bem sucedido, na medida em que nos legou um marco da arquitetura de todos os tempos, é, certamente, a capela de Notre-Dame du Haut, em Ronchamp, de Le Corbusier (1950-55). Um trabalho que surpreendeu todo o mundo, mas sobretudo aos discípulos do mestre.

O anamorfismo foi também utilizado pelos arquitetos expressionistas, às vezes assistidos por intenções representativas,  mas muitas vezes com uma intenção de maior ligação com a natureza, na busca de uma arquitetura orgânica. Mais recentemente, o anamorfismo é uma prática comum nos arquitetos desconstrutivistas.

Museu Guggenheim. Bilbao. 1992-7.
Levando em consideração que nem sempre será possível o enquadramento de um edifício em apenas uma categoria, é frequente acontecer uma superposição: uma forma será ao mesmo tempo abstrata e tectônica, geométrica e sistêmica, e assim por diante.


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