Quando observarmos um conjunto de edifícios que se constitui
a arquitetura de um determinado local, tentando entender o fenômeno da forma
arquitetônica, abrangendo a produção atual, vamos notar que estes edifícios,
além das diferenças acidentais que possuem entre si, apresentam diferenças
muito mais profundas, relacionadas com as estruturas elementares de conceitos
sob os quais estes edifícios foram concebidos. Assim, essas estruturas são definidas em categorias da forma
arquitetônica.
Abaixo, um breve
resumo das principais categorias, baseada nos modos fundamentais ou princípios
de relação com fontes externas ou internas de onde o arquiteto extrai a ideia
inicial para a configuração do edifício ou conjunto.
·
Forma tipológica:
A forma tipológica vem dos tipos arquitetônicos. É a mais
freqüente, tanto na arquitetura histórica quanto na contemporânea. Se
observarmos o quanto os espaços das igrejas tradicionais se parecem: uma nave
central, mais alta, e duas laterais, mais baixas; o altar situa-se no cruzamento
destas naves com uma outra, o transepto. Elas fazem parte de um tipo
arquitetônico, chamado de basílica cristã, desenvolvido na Idade Média, na Europa,
a partir da basílica pagã.
Outro exemplo de tipo arquitetônico, e que temos bastante
conhecimento é o edifício residencial multifamiliar. Seus elementos
componentes, tanto coletivos (portaria, elevadores, circulações) quanto
privativos (salas, quartos, etc.) guardam sempre a mesma relação posicional, o
que podemos caracterizar como um tipo arquitetônico.
· Forma geométrica:
A mais usada na arquitetura moderna. A escolha dos
arquitetos geralmente recai sobre formas simples: prismas, cilindros,
paralelepípedos, usados isoladamente ou compondo conjuntos. Eventualmente,
recorre-se a formas geométricas menos usuais: a Catedral de Brasília tem a
estrutura formal de um hiperbolóide de revolução.
·
Forma livre:
Muito usada também na arquitetura moderna. Não se parecer com formas usadas anteriormente ou com figuras geométricas familiares, atendeu à perfeição aos requisitos modernistas de inovação, originalidade e funcionalidade. Quanto à inovação, a formas não conhecidas era uma exigência para a criação de um novo código desvinculado do passado; no quesito originalidade, o atendimento ao mito romântico da forma original era visto como oposição ao passado recente, de obediência clássica, e portanto normativa; quanto à funcionalidade, se a forma deveria “seguir a função”, não poderia ser um “a priori”, como é o caso da forma tipológica, mas uma consequência final do estudo do problema.
Temos como o significado de analogia, a relação de
semelhança entre dois objetos. A forma arquitetônica analógica é inspirada por
um objeto externo ao universo da arquitetura. Vejamos isso com o exemplo das ordens gregas: os capitéis dórico
e jônico são de inspiração geométrica; já o capital coríntio é uma forma
analógica (representa um cesto ornado de folhas de acanto). Outro exemplo nos é
dado pelo Terminal de Passageiros da TWA, inspirado na forma de uma águia, uma
metáfora alusiva não somente ao vôo de longo alcance, como também ao país, uma
vez que a águia é símbolo dos Estados Unidos.
Terminal da TWA no aeroporto J. F. Kennedy, em Nova Iorque. |
· Forma tectônica:
Essa forma é determinada por necessidades técnicas. Por
exemplo, os telhados de águas inclinadas, uma solução de cobertura que
atravessa toda a História da Arquitetura. A inclinação deve-se à necessidade de
facilitar o escoamento das águas ou de neve. Um outro exemplo de forma
tectônica nos é dado pelo arco, que tantos serviços prestou à arquitetura
tradicional.
Fábrica de
chapéus Steinberg, Luckenwalde (1921-1923).
|
Casa da Cascata. Bear Run, Pensilvânia. 1936. |
- Forma orgânica:
A forma orgânica é quando a configuração final do edifício é resultado do posicionamento das unidades espaciais, que são justapostas à maneira de células de um tecido orgânico. Os mais célebres exemplos desta categoria são as “praire houses” de Frank Lloyd Wright, residências suburbanas de alta classe média no Leste dos Estados Unidos, início do século.
·
Forma sistêmica
É a forma que resulta da
resolução antecipada dos problemas propostos por um ou mais sistemas da
arquitetura. Historicamente, o melhor exemplo da forma sistêmica vem das
catedrais góticas. Os sistemas espacial, estrutural e de iluminação são
resolvidos em cada tramo do edifício e se reproduz linearmente por
justaposição. Atualmente os sistemas envolvidos são de maior complexidade, incluindo
a estrutura, as instalações técnicas (ar condicionado, eletricidade, água e
esgoto), instalações físicas (mobiliário, equipamentos), demandas de conforto
ambiental. A forma sistêmica é o resultado de uma abordagem tecno-científica da
arquitetura e responde pelas melhores soluções da construção industrializada.
Companhia Centraal Beheer. Apeldoorn, Holanda. |
·
Anamorfismo
Esse nome se dá ao processo de deformação de uma figura
conhecida em busca de uma nova forma, diferente e individualizada, mas que
resulta da distorção da primeira. No processo anamórfico o artista atua
diretamente sobre a forma, às vezes sem nenhum método pré-determinado. O uso
mais conhecido do processo anamórfico na arquitetura, e possivelmente o mais
bem sucedido, na medida em que nos legou um marco da arquitetura de todos os
tempos, é, certamente, a capela de Notre-Dame du Haut, em Ronchamp, de Le Corbusier
(1950-55). Um trabalho que surpreendeu todo o mundo, mas sobretudo aos
discípulos do mestre.
O anamorfismo foi também utilizado pelos arquitetos
expressionistas, às vezes assistidos por intenções representativas, mas muitas vezes com uma intenção de maior
ligação com a natureza, na busca de uma arquitetura orgânica. Mais
recentemente, o anamorfismo é uma prática comum nos arquitetos
desconstrutivistas.
Museu Guggenheim. Bilbao. 1992-7. |
Levando em consideração que nem sempre será possível o enquadramento de um edifício em apenas uma categoria, é frequente acontecer uma superposição: uma forma será ao mesmo tempo abstrata e tectônica, geométrica e sistêmica, e assim por diante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário